Quando nos rendemos é porque reconhecemos a nossa limitação diante de alguém ou de alguma coisa. Quando nos rendemos, reconhecemos também a superioridade desse alguém ou dessa coisa.

Muitas são as situações desta vida que querem nos fazer prostrar, render, nos entregar. A prostração, a rendição que surge diante dos problemas da vida é fruto de abatimento, desfalecimento, enfraquecimento. É uma debilidade resultante de um cansaço.

Já a atitude de se render e se prostrar aos pés do Senhor é autêntica quando provém de um sincero reconhecimento de que sem Jesus nós não somos, nem podemos nada. Foi Ele mesmo quem disse em Jo 15.5: "Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma". Sem Ele não podemos, não somos nada!

Veja o que nos diz esses textos:

Lc 10.38,39: "Caminhando Jesus e os seus discípulos, chegaram a um povoado onde certa mulher chamada Marta o recebeu em sua casa. Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo a sua palavra".

Jo 11.32: "Chegando ao lugar onde Jesus estava e vendo-o, Maria prostrou-se aos seus pés e disse: “Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido”.

Jo 12.3: "Então Maria pegou um frasco de nardo puro, que era um perfume caro, derramou-o sobre os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos. E a casa encheu-se com a fragrância do perfume".

Esses três textos nos falam sobre a mesma pessoa, Maria, irmã de Marta e de Lázaro, que morava em Betânia. Essas são as únicas vezes que Maria de Betânia aparece nos relatos dos evangelhos e, não à toa, nessas três vezes, ela se encontra no mesmo lugar. Onde? Como? Ela está rendida aos pés de Jesus.

No primeiro texto, Jesus chega à casa dessa família em Betânia. Marta fica completamente envolvida com as coisas da casa e Maria larga tudo e fica aos pés de Jesus. Fazendo o quê? Maria se rende, se prostra aos pés de Jesus para Dele se alimentar, para ouvir a sua Palavra.

Marta pensa que Jesus concordaria com ela, mandando Maria lhe ajudar, por isso disse: "Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!". E Jesus lhe explica que a atitude e o comportamento de Maria - que ouvia com plena dedicação e atenção as palavra de Jesus - era a boa parte que Jesus disse, era o que tinha de mais importante a se fazer quando Jesus está presente. Essa é a boa parte que não lhe será tirada. Isso é o mais importante a fazer, estar rendido ao pés do Senhor para Dele se alimentar.

A segunda passagem, de Jo 11.28-32, contextualiza a morte de Lázaro, irmão de Maria e Marta, a quem Jesus amava, tinha um carinho especial por essa família. E Maria estava em casa, sendo consolada. Marta já havia encontrado Jesus, voltou para casa e disse a Maria que Jesus a chamava.

Ela prontamente sai de casa à procura do Senhor. Todos que lhe consolavam pensaram que ela iria ao túmulo chorar. Qual não foi a surpresa, ao encontrar Jesus, ela faz o quê? Maria se prostra, se lança aos pés do Mestre. Pra quê? Para dividir com Ele a sua tristeza, para rasgar seu coração sem reservas, para dizer a Jesus como estava doendo!

Ela derrama aos pés de Jesus seu coração aflito. Entenda, por favor, que suas palavras não são acusadoras, mas revelam que ela ainda não tinha entendido o porque da suposta demora do Senhor e precisa colocar aquilo diante de alguém. Só por causa da intimidade, ela pode colocar tudo o que sentia diante do Senhor.

Rendidos aos pés do Senhor podemos abrir o nosso coração, quando a dor toma conta, quando o abatimento quer dominar, quando não entendemos nada, podemos dizer tudo, absolutamente tudo para o Senhor, porque Dele receberemos o que necessitamos. Ou podemos ficar em silêncio, porque muitas vezes as palavras nos faltam. Falando ou em silêncio, o mais importante é estar rendido aos pés do Senhor.

É assim que precisamos orar a Deus, com toda a sinceridade. Se estou mal, estou mal, não vou fingir, não vou aparentar. Vou expressar o que sinto fielmente para o meu Deus, mas não me esquecerei de esperar Nele.

Tem coisas que não podemos e não devemos dizer para ninguém, somente para o Senhor, porque só Ele trata conosco de maneira apropriada, exatamente como precisamos.

No momento mais difícil da vida de Maria, creio eu, ela rasgou seu coração para o Senhor, ela pode fazer aquilo porque render-se aos pés do Senhor era uma prática diária em sua vida.

Prostrados, rendidos aos pés de Jesus recebemos força, alívio, refrigério, bálsamo, renovação, ânimo, enfim, tudo o que precisamos para continuar a vida.

Trilhava Maria pelo vale da sombra da morte, como a Palavra nos ensina, o dia mal havia chegado e ela se encontrava abatida, sim, abatida. Mas atenção: rendidos aos pés do Senhor eu rasgo meu coração! Eu choro e sou consolado, eu chego fraco e sou fortalecido, eu chego desanimado e sou reanimado. Tudo isso acontece conosco quando estamos rendidos aos pés do Senhor.

O terceiro texto, de Jo 12.3, relata que Jesus vai a Betânia antes da crucificação e fica hospedado na casa de Marta, Maria e Lázaro. Essa casa, essa família já havia sentido o cheiro da dor e da morte, mas eles experimentaram o poder de Deus de uma forma espetacular. A morte saiu e a vida entrou.

Havia ali, naquela ocasião, o cheiro da comida saborosa feita por Marta. Mas o cheiro que se sobressaiu naquela casa foi o de uma fragrância excelente. Maria tomou o objeto que ela tinha de maior valor, um nardo puro, caríssimo e o despejou completamente aos pés de Jesus.

Agora entenda uma coisa: esses perfumes eram guardados em frascos invioláveis e para usá-los era preciso quebrá-los, como a uma ampola de injeção. Mc 14.3 diz: Ela quebrou o frasco e derramou o perfume.

Para que o bom perfume de Cristo exale e domine toda a sua casa, a sua família e a sua vida, quebre o seu orgulho, abra mão das suas razões e, de uma vez por todas, reconheça que você precisa de Jesus. Renda-se completamente a Ele. Ai sim, quebrantado você vai com sinceridade se lançar, se render verdadeiramente aos pés do Senhor. Maria não deu apenas um frasco de nardo puro, caríssimo; Maria se prostrou para adorá-lo, entregando a Ele todo o seu ser, tudo o que era, tudo o que tinha.

Maria foi uma serva de Deus, que desde cedo aprendeu que o melhor a se fazer na vida é se render completamente aos pés do Senhor.